A vida com diabetes

Resolvi escrever este blog com base nas experiências que tenho com meu filho, que é diabético desde os 10 meses de idade.

segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

Hiper noturna

Ultimamente Fe tem tido noites complicadas, com valores de glicemia muito altos durante a madrugada.
Já aumentamos a taxa de insulina basal, mas o efeito foi muito discreto.
Não sei se devemos aumentar mais as taxas da basal, mas preocupa muito o que está acontecendo.
Não conseguimos achar nenhuma relação com qualquer coisa. A rotina da noite continua a mesma dos ultimos anos.
Ele sempre tomou leite antes de dormir para evitar hipos noturnas.
De repente algo mudou.
O mais estranho é que a glicemia não baixa mesmo aplicando quantidades de insulina relativamente altas. Há noites em que aplicamos mais de 1U para corrigir a hiper, mas mesmo assim a glicemia continua alta.
Complicado.

Tratamento com a bomba e contagem de CHO

A rotina do tratamento com a contagem de CHO é bem exigente.
Veja como é a nossa rotina:
- Fe acorda
- medimos a glicemia na ponta de dedo
- calculamos a quantidade de CHO do café da manhã
- informamos na bomba o valor da glicemia sanguinea e a quantidade de CHO que será consumida. A bomba mostra a estimativa da quantidade de insulina que será aplicada
- depois de duas horas, se o valor da glicemia estiver muito alto, a bomba aciona um alarme para que nós possamos fazer outra medição na ponta de dedo e corrigir a hiperglicemia. De forma parecida, se a glicemia baixar muito ele emite um alarme e podemos fazer a correção para evitar uma hipo severa.
- na hora do almoço pesamos tudo o que ele vai comer. Calculamos a quantidade de CHO.
- fazemos outra medição na ponta de dedo.
- informamos a glicemia e a quantidade de CHO da refeição e novamente a bomba calcula quanta insulina será aplicada.

É assim a nossa rotina com a bomba de insulina e a contagem de CHO. No início é um pouco estranho ter de pesar toda a comida. É claro que uma boa balança facilita muito esta tarefa.
Outra coisa importante é ter uma boa tabela de alimentos informando a quantidade de CHO.
Não é um bicho de sete cabeças.
O sensor de glicose é um grande aliado no controle das glicemias mas às vezes é um pouco cansativo porque ele realmente avisa quando há alguma variação acima ou abaixo dos limites determinados, e não importa a hora. Mas agradeço por ele existir.

Tratamento com a bomba de insulina 2

Mais informações sobre o uso da bomba.

Tivemos de trocar de aparelho depois de um ano de uso. Felizmente, não houve custo para nós. Apenas o estresse de ficar sem o aparelho.

A grande vantagem de se usar a bomba é que fica muito fácil fazer correções para as hiperglicemias. Podemos fazer várias correções por dia.

Outra grande vantagem é a possibilidade de programar basais diferentes. Assim, para cada período do dia ou da noite é possível definir quanta insulina será aplicada como basal. Por exemplo, se percebemos que durante a madrugada a glicemia dele sobe muito podemos aumentar o nível da basal durante um intervalo. A bomba permite até 8 níveis diferentes num intervalo de 24 horas.

Conseguimos obter os insumos para a bomba através de um processo judicial. Com isso, recebemos o reservatório para insulina, o catéter e o sensor de glicemia. Todo mês vou ao posto de dispensação da Secretaria da Saúde para pegar os insumos. Uma grande tranquilidade.Da mesma maneira é possível obter as insulinas que não são disponibilizadas pelo SUS, com o Lantus, Levemir e as ultra rapidas como a Humalog, Apidra, ou Novorapid.

Tratamento com bomba de insulina 1

O Fe está usando a bomba de infusão de insulina desde dezembro/2007.
Em março/2008 ele começou a usar o CGMS Real Time.

Desde que ele começou a usar a bomba pude notar várias coisas:

1 - manter o sistema é muito caro, principalmente se você é quem paga por tudo.
2 - a despeito de muitas coisas que li na Internet, no Orkut, e outros foruns, é possível melhorar o controle da diabetes usando a bomba. Antes de tudo começar, eu tinha dúvidas se realmente era verdade que o controle da diabetes teria uma melhora tão sensível, mas depois de ver os resultados, sou obrigado a admitir que funciona.
3 - você é quem cuida de tudo. Continua medindo a glicemia na ponta de dedo, continua controlando a quantidade de insulina a ser aplicada para o bolus e continua controlando a alimentação.
4 - a cada 3 ou 4 dias você precisa trocar a cânula, que fica conectada a você 24x7. É por aí que a insulina entrará no subcutâneo. No caso do Fe, um ponto de inserção pode ser usado até 4 dias. Isso varia conforme a localização se mais, ou menos sensível. Quanto mais resistente o subcutâneo, maior é o tempo de manutenção da cânula no mesmo ponto de inserção.
5 - para tomar banho é preciso desconectar a bomba. Isso significa que o tempo em que você está no banho, você fica sem insulina uma vez que a bomba é responsável pela insulina basal também.
6 - isso limita consideravelmente o tempo que um usuário de bomba pode ficar dentro da piscina, debaixo dágua, também não é recomendável ficar muito tempo com a bomba exposta diretamente ao sol, assim, prolongados banhos de sol, com a bomba tomando sol junto, não são recomendáveis.
7 - como a bomba usa apenas um tipo de insulina, tanto para basais quanto para bolus, a ação da insulina fica mais previsível.
8 - com um pouco de cuidado, as crianças podem usar a bomba. É claro que se a criança pratica algum esporte de contato físico mais forte (artes marciais, por exemplo) é melhor retirar o dispositivo durante a prática.

quarta-feira, 25 de agosto de 2010

CGMS

O termo CGMS (Continuous Glucose Monitoring System) significa Sistema de Monitoramento Contínuo de Glicose.
O Fe utiliza o sistema da Medtronics chamado de RealTime e consiste de um sensor de glicose, que fica inserido na pele, de um transmissor, que fica acoplado ao sensor e o aparelho que interpreta as informações geradas pelo conjunto sensor + transmissor.
Ele faz medições em intervalos de 5 minutos totalizando em um dia 288 medições.
Graças a isso é possível acompanhar o comportamento da glicemia sanguínea em vários momentos do dia, e nas mais diversas situações.
Outro grande recurso que o sistema possui é o alarme programável. Com isso é possível definir um valor mínimo e um máximo para a glicemia sanguínea. Toda vez que o valor fica abaixo do valor mínimo, ou acima do valor máximo o sistema dispara um alarme.
Desse modo, por exemplo, quando você está ficando hiperglicêmico o sistema é capaz de informá-lo disso. Assim, você pode tomar medidas para impedir que o valor da glicemia suba muito. Por outro lado, quando o valor fica muito baixo é possível fazer pequenas correções antes de se transformar em uma hipoglicemia.
É uma grande ferramenta que auxilia ativamente para que se mantenha o nível da glicemia dentro da faixa "segura".
No Brasil o único CGMS disponível é o da Medtronics. Cada sensor funciona por 6 dias. É consideravelmente seguro, mas não consegue acompanhar mudanças muito rápidas da glicemia porque ele faz a leitura do tecido intersticial, ou seja, ele reage com o líquido que fica dentro do tecido ao invés do sangue, assim, se houver uma mudança muito rápida nos valores da glicemia, tanto para cima quanto para baixo, o nível de glicose no tecido intersticial demora mais para refletir essa mudança e, por isso, o sensor também apresenta essa pequena diferença.
Nos Estados Unidos há duas opções além do Real Time, o Seven Plus da Dexcom, e o FreeStyle Navigator da Abbott. Todos eles funcionam de forma similar. O que varia é a duração do sensor.
No caso do Navigator, há relatos de sensores que chegam a durar mais de 10 dias.
Independente da marca, o mais importante é que o CGMS representa uma grande ferramenta no controle da glicemia. Observando o comportamento e as variações que ocorrem durante o dia e a noite é possível personalizar o tratamento evitando hipoglicemias noturnas e controlando as hiperglicemias antes que os valores fiquem muito elevados.

sexta-feira, 28 de maio de 2010

Tratamento com bomba de insulina

O Fe usa atualmente a bomba de infusão de insulina. É um aparelho de alta precisão, programável, que injeta doses pré-definidas de insulina automaticamente, de forma contínua.
Antes da bomba, fazíamos várias aplicações de insulina por dia. Por exemplo, num dia comum seriam duas injeções de insulina lenta, e para cada refeição uma aplicação de insulina ultra rápida. Assim seriam duas injeções de lenta, uma de ultra rápida para o café da manhã, outra para o almoço, outra para o lanche da tarde, outra para o jantar e outra para o lanche da noite. Portanto, seriam sete injeções de insulina num dia.
Caso fosse necessário fazer correções entre as refeições, seriam mais injeções.
Lembro que chegamos a fazer nove injeções num unico dia.
Deste ponto de vista, o uso da bomba de insulina possibilita um controle melhor das glicemias justamente porque é mais fácil aplicar insulina.
No caso do Fe, ele ainda está usando um sistema de monitoramento contínuo da glicose sanguínea (CGMS) que informa durante as 24 horas do dia como está a variação da glicemia.
Várias vezes já ouvimos falar que este sistema não é preciso, ou seja, o valor apresentado pelo sensor não é exatamente igual ao valor obtido da glicemia capilar, mas ele serve como parâmetro para decidir quando devemos fazer a medição na ponta de dedo para realizar correções.
Graças a isso podemos corrigir a glicemia logo que ela começa a subir evitando assim que ele fique hiper por muito tempo.
Por outro lado, também conseguimos detectar as hipos e fazer as devidas correções previnindo as situações de risco com as hipoglicemias severas.
Este assunto também merece mais detalhes.

segunda-feira, 19 de abril de 2010

Aniversário

Este sábado foi aniversário do Fê. Fomos ao zoológico. Ele nunca tinha ido.
Como o zoo que escolhemos era pequeno, valeu mais pelo passeio do que pelos animais, foi um passeio calmo, num lugar calmo, sem aquele monte de gente se espremendo pra ver uma jaula.
Domingo, recebemos a visita do avô Roberto. De um modo geral foi um bom fim de semana, sem grandes problemas.
Tentei colocar um sensor de glicemia nele ontem, mas não funcionou direito.
O sensor tem desses problemas, às vezes ele simplesmente não funciona e eu não tenho coragem de espetá-lo mais de uma vez com aquilo num mesmo dia. A agulha para inserir o sensor é bem respeitável, muito maior que a agulha do catéter.
Espero que um dia tudo isso mude.

terça-feira, 23 de março de 2010

Hipoglicemia

O que é hipoglicemia?

Hipoglicemia é o termo utilizado para definir um valor de glicemia abaixo do normal.

O que é normal?

Muito do que li a respeito define que a glicemia deve estar no mínimo a 60 mg/dl. Se ela permanece muito tempo abaixo desse valor existe risco de dano neurológico.

A questão é tão delicada que a Sociedade Brasileira de Diabetes admite que para crianças com menos de 6 anos as taxa de glicemia sejam em média um pouco mais elevadas para diminuir os riscos de hipoglicemia.

Se a glicemia sanguínea fica muito tempo abaixo de 40 mg/dl, na maioria das pessoas há uma diminuição da eficiência mental e da capacidade de tomar decisões. Se cair mais podem ocorrer convulsões e inconsciência. Abaixo de 10mg/dl pode ocorrer coma.

Os sintomas mais comuns para hipoglicemias leves são:

- tremores, ansiedade
- suor frio
- atividade mental abaixo do normal, confusão, tontura
- alteração do humor, choro
- cansaço, fraqueza, apatia, sono
- dificuldade de fala, engolir palavras
- descoordenação, comportamento semelhante à embriaguez
- fome

A hipoglicemia pode ocorrer nas seguintes situações:

- pelo consumo de álcool: o álcool atua de várias formas no organismo e o consumo excessivo dele pode criar uma situação de descontrole que pode levar ao coma. O álcool passa rapidamente para a corrente sanguínea e faz com que o sistema excretor trabalhe mais intensamente para eliminar o excesso, mas junto com o alcool são eliminados sais minerais, água, glicose, e outras substâncias. Normalmente, num quadro de hipoglicemia um organismo normal possui mecanismos que fazem o fígado liberar glicose para compensar a baixa da glicose, mas o álcool impede que o fígado libere eficientemente a glicose o que contribui para o quadro de hipoglicemia.

- por jejum prolongado ou alimentação deficiente em carboidratos

- distúrbios alimentares como anorexia

- esforço físico excessivo: às vezes os músculos podem consumir a glicose sanguínea muito rapidamente e não há tempo para o organismo liberar suas reservas, mas é um quadro temporário para um organismo normal

- consumo de medicamentos hipoglicemiantes: o uso de medicamentos hipoglicemiantes como insulinas e antidiabéticos orais, aliado a alimentação deficiente também pode levar a um quadro de hipoglicemia

- existem ainda quadros de hipersecreção de insulina que podem levar a hipoglicemia

- e há ainda a hipoglicemia reativa

Como tratar um quadro de hipoglicemia

Se a pessoa estiver consciente devemos oferecer alimentos ricos em carboidratos. Ofereça uma porção de alimento que corresponda a aproximadamente 15g de CHO. Por exemplo:

1 colher de sopa rasa de açúcar branco com água
150 ml de refrigerante normal
150 ml de suco de laranja
3 balas normais

Após cerca de 15 minutos faça uma medição. Se a glicemia sanguínea estiver abaixo de 70mg/dl repita a operação.

Continuando o tratamento 2 - HIPOGLICEMIA SEVERA

Um episódio marcante no início do tratamento: uma hipo severa.
O que aconteceu: cometi um terrível erro na aplicação.
Todos os dias de manhã cedo, antes de sair para o trabalho, eu fazia a aplicação das insulinas. Num determinado dia fiz a aplicação como sempre, mas acho que acertei algum vaso e saiu muito sangue, muito mesmo...
Num enorme erro achei que a insulina havia saído com todo aquele sangue... terrível engano.
Resolvi aplicar um pouco mais de insulina para garantir. Outro erro.
Algumas horas depois, quando eu já estava no trabalho, recebo um telefonema desesperado, informando que o Fe estava tendo convulsões, que o glicosímetro indicava LOW, ou seja, algo abaixo de 20mg/dl. Entrei em desespero pois estava longe de casa, e ia demorar no mínimo uma hora para chegar. Neste ponto, tivemos um atendimento muito bom da equipe de atendimento da Amil, que instruiu o que fazer na emergência.
No caso de uma hipoglicemia severa por excesso de insulina não basta dar açúcar para compensar a insulina, é preciso dar, além do açúcar, algo que tenha um pouco de gordura porque isso suntentará a glicemia depois que o açúcar fizer com que aumente.
Vou explicar os erros: se eu havia acertado um vaso, digo isso por causa da quantidade de sangue que saiu, isso significa que a insulina entrou toda, ou quase toda, na corrente saguínea. É certo que alguma coisa saiu, mas não dá pra medir quanto.
Outro erro: se não dá pra medir quanto entrou e saiu de insulina, não adiante aplicar mais. O correto é esperar pra ver o que acontecerá com a glicemia. Se ela subir muito, é só corrigir.
Lição aprendida da pior maneira que existe...

quinta-feira, 11 de março de 2010

Diluindo a Humalog

Este foi um recurso que aprendemos com o endocrinologista para conseguirmos aplicar menos de uma unidade de insulina utilizando a seringa.
Esta técnica também pode ser utilizada se for necessário aplicar uma quantidade não inteira de insulina, por exemplo, se voce precisar aplicar 1,2 unidades de insulina.
Vou resumir o processo. Na época fazia sentido.
Achei mais fácil partir de uma quantidade de 10 de solução de agua com insulina.
Assim:
Digamos que eu preciso aplicar 0,8unidade de insulina.
Com a seringa não é possível selecionar menos de 1 unidade de insulina. Existem hoje no mercado uma caneta de insulina em que é possível selecionar incrementos de 0,5 unidade. De qualquer forma, não daria pra selecionar 0,8. Então podemos fazer o seguinte:
utilizando sempre água bi-destilada, encontrado em farmácias, primeiro retire 1 unidade de insulina do frasco. Em seguida, preencha a seringa até marca de 10 unidades.
A partir deste ponto podemos selecionar a quantidade de insulina tomando como base que 10 unidades da solução diluída equivale a 1 unidade de insulina. Então, à medida em que diminuímos a quantidade de solução retirada, menor é a dose de insulina a ser aplicada.
Por exemplo, se eu quiser aplicar 0,8 unidades de insulina, eu teria de fazer uma pequena conta para concluir que com 8 unidades da solução ou obteria 0,8 unidade de insulina na contabilidade.
Veja abaixo um exemplo utilizando 1 unidade de insulina com 9 unidades de água:



Agora veja abaixo outro exemplo utilizando 2 unidades de insulina com 8 unidades de água:




Com base nas tabelas fica mais fácil entender o mecanismo da diluição. Para quem faz a contagem de carboidratos é muito comum encontrar valores para bolus de correção fracionados. Para estes casos essa idéia pode ajudar.
É claro que essas pequenas quantidades de insulina fazem diferença para crianças pequenas, pelo menos para o Fe fez muita diferença. Houve época em que 0,5 unidade representava a diferença entre hiper e hipo. Várias vezes tivemos de fazer diluições para aplicar 0,2 unidades.
Uma informação importante: utilizar sempre água bidestilada. É aquela obtida a partir da destilação de água destilada, ou seja, não possui sais minerais ou outras impurezas que poderiam alterar o comportamento da insulina. É um pouco difícil de ser encontrada, muitas vezes somente em lojas especializadas em materiais médicos. É difícil de encontrá-la em farmácias.
Eu creio que para quem tem diabéticos pequenos a diluição pode fazer muita diferença.
Nunca usei este recurso com outros tipos de insulina, apenas com a Lispro.

segunda-feira, 8 de março de 2010

Continuando o tratamento

Como já escrevi anteriormente usávamos a NPH como insulina basal, e a Humalog para o bolus de correção e bolus alimentar.
A NPH nos proporcionava alguns sustos em forma de hipoglicemias inesperadas por causa de sua ação imprevisível. Os picos de ação da insulina ocorriam absolutamente sem qualquer padrão. Vivíamos um carrossel glicêmico. Era assim: de manhã aplicávamos a NPH, ele tomava o café da manhã com a dose de Humalog para cobrir a refeição. Como não conhecíamos exatamente o mecanismo para o controle da GS ele acabava ficando hiper.
À medida que nos aproximávamos da hora do almoço precisávamos prestar muita atenção nele porque nunca sabíamos quando ele ia ficar hipoglicêmico. E quase sempre ficava...
Por conta disso, ele partia de glicemias próximas de 200 e caía para valores abaixo de 60. Aí, na pressa de fazer com que a glicemia dele subisse, exagerávamos na quantidade de carboidratos e ele acabava ficando hiper de novo, e assim seguia durante o dia e a noite.
Não conseguíamos ficar um único dia na faixa desejada.
Para usar a Humalog nas correções e nos bolus tivemos de aprender a diluí-la.
Isto merece um pouco mais de informação.

Culpa...

A fase de lua de mel do Fê não durou muito. Durante muito tempo após o diagnóstico eu e a minha esposa passamos por aquele momento do "o que fizemos errado?".
Será que foi a vacina que ele tomou no posto? Será que ele já nasceu assim? Será que foi o stress durante a gestação? Será que foi a diabetes gestacional que não foi diagnosticada?
Nunca encontramos resposta para esta pergunta. E creio que será assim para o resto de nossas vidas.
Mais uma pergunta sem resposta...

domingo, 7 de março de 2010

Mais informação...

Carboidrato (CHO): ou hidratos de carbono, podemos chamar de carboidrato toda molécula formada por átomos de Carbono, Hidrogênio e Oxigênio. Entretanto, existem algumas combinações importantes para nós porque podem ser usadas como fonte energia, ou entram na composição de ácidos nucléicos que ajudam no funcionamento das células.
Assim, temos:
Ribose e desoxiribose que entram na composição do RNA e DNA respectivamente;
Glicose, Frutose e Lactose que representam as principais reservas de energia para os seres vivos. É a partir destas moléculas que se formam os açúcares que consumimos no dia a dia, por exemplo, a sacarose, que é o açúcar extraído da cana-de-açucar ou da beterraba, é composta por uma molécula de glicose e uma molécula de frutose. A lactose é formada por uma molécula de glicose e uma de galactose. Após a digestão, estas moléculas tranformam-se em glicose.
Onde encontramos carboidratos simples: açúcar refinado, açúcar mascavo, mel, balas, doces e refrigerantes não diet, frutas e sucos de frutas, leite, caldo de cana.
Onde encontramos carboidratos complexos: arroz, feijão, batata, farinhas, massas, pães, tubérculos em geral, milho, aveia, macarrão, pipoca, ervilha, grão de bico.

Indice glicêmico: é o valor que representa a velocidade com que um alimento faz a glicemia sanguínea aumentar. Assim, quanto maior o valor do índice glicêmico de um alimento, mais rápido ele fará com que a glicemia sanguínea suba.

Fator de correção: é a cálculo para estabeler a quantidade de insulina rápida, ou ultra rápida, é necessária para corrigir a hiperglicemia.
Para calcular o fator de correção é necessário saber a meta glicemica e o fator de sensibilidade. Supondo que a meta glicemica seja 120mg/dl e o fator de sensibilidade seja de 50mg/UI e que a glicemia sanguínea esteja em 200, teremos:
200 -120 = 80 é o quanto a glicemia precisa baixar para atingir a meta.
80/50 = 1,6 é a quantidade de insulina necessária para fazer baixar a glicemia até o nível da meta.

Fator de sensibilidade: é o quanto 1 unidade de insulina consegue baixar a glicemia sanguínea. Para calcular o fator de sensibilidade é saber primeiro a quantidade média de insulina aplicada diariamente. Em posse dessa informação é possível usar as seguintes fórmulas:

Para insulina de ação rápida - dividir o valor absoluto 1500 pela quantidade de insulina diária. Assim, se você utiliza 30 unidades de insulina diariamente para manter sua glicemia próxima do normal calculamos 1500/30 chegando a 50mg, ou seja, será necessária 1 unidade de insulina para corrigir 50mg/dl.
Para insulina de ação ultra rápida - dividir o valor absoluto 1800 pela quantidade de insulina diária. Assim, se você utiliza 30 unidades de insulina basta calcular 1800/30 chegando a 60mg, ou seja, 1 unidade de insulina diminui em 60mg/dl a glicemia sanguínea.
É importante notar que o fator de sensibilidade varia para cada pessoa pois depende do metabolismo, da massa corpórea, da reação à insulina e, mesmo para um indivíduo, o fator pode variar de acordo com o horário. Assim, durante a dia o organismo de algumas pessoas pode precisar de mais insulina do que à noite, por exemplo.

Relação I:C (insulina/carboidrato): representa a quantidade de insulina necessária para "cobrir" uma determinada quantidade de carboidratos. É uma informação particularmente importante para quem faz o tratamento com base na insulinização intensiva, com o uso de insulina rápida ou ultra rápida.
Existe uma regra básica para determinar inicialmente esta relação de acordo com o peso corporal. Veja abaixo:
Peso........ Unidades insulina:CHO
45-49....... 1:16
49,5-58..... 1:15
58,5-62,5... 1:14
63-67....... 1:13
67,5-76..... 1:12
76,5-80,5... 1:11
81-85....... 1:10
85,5-89,5... 1:9
90-98,5..... 1:8
99-107,5.... 1:7
>= 108...... 1:6

É importante lembrar que estes valores servem apenas como referência inicial e que a relação deve ser ajustada para cada indivíduo com base no controle da glicemia sanguínea pós prandial.

Contagem de carboidratos: é uma estratégia alimentar que toma como base a quantidade de carboidratos de cada alimento ingerido.
Para o tratamento da DM1 é muito útil pois uma vez conhecida a quantidade de CHO de cada alimento e a quantidade ingerida do alimento, é possível determinar a quantidade de insulina necessária para cobrir os CHO da refeição. Isso proporciona mais flexibilidade no dia a dia. Falarei com mais detalhes sobre a contagem de CHO em outro momento.

domingo, 28 de fevereiro de 2010

Insulina de ação ultra rápda

Até agora falei apenas das insulinas de ação lenta.
Vamos ver alguma coisa sobre as insulinas de ação ultra rápida.

As insulinas de ação ultra rápida que conheço são a lispro, conhecida comercialmente como Humalog, e é produzida pela Lilly, e a aspart, conhecida comercialmente como Novorapid, produzida pela NovoNordisk.

A insulina lispro é um análogo da insulina humana derivada de DNA recombinante. Foi criada com a inversão de aminoácidos nas posições 28 e 29 da cadeia B. No caso da Humalog, é feita de cristais de insulina zincica lispro dissolvidos em líquido claro.



A insulina aspart, da mesma forma que a lispro, é uma insulina humana derivada de DNA recombinante.
É obtida pela substituição do aminoácido prolina pelo ácido aspártico na posição 28 da cadeia B.

A ação de ambas é teóricamente muito parecida. Entretanto, ela pode variar de pessoa para pessoa por causa da reação metabólica de cada indivíduo.
Por isso, o início da ação das insulinas pode sofrer variações, bem como a tempo total de ação delas também pode variar.
Assim, é muito importante que você não tome como base única estas informações. Sempre procure informação junto a um profissional de saúde especializado.

Insulina de ação lenta

Tivemos de conviver com o carrossel glicêmico do Fê por algum tempo. A NPH realmente complicava muito o controle das glicemias por causa dos picos de ação imprevisíveis.
Fomos a uma consulta com o dr. José Rodrigues Coelho e conversamos com ele sobre as hipos constantes. Nessa época o Fê já tinha 3 anos. Depois de 2 anos de tratamento ainda não tínhamos conseguido um controle bom. As oscilações eram muito grandes.
Num único dia as glicemias dele variavam entre 50mg/dl a mais de 300mg/dl em questão de poucas horas, várias vezes por dia.
Nessa ocasião, ao invés de indicar a bomba de infusão, ele indicou o uso da insulina detemir, comercialmente conhecida como Levemir. Por que não usamos a Lantus? Porque ela era indicada para crianças somente a partir dos 6 anos.
De qualquer modo começamos a usar a Levemir.



O gráfico acima ilustra a ação dela.
Esta insulina é análoga à insulina humana, com a recombinação de algumas enzimas para retardar a ação dela no organismo.
Outra característica importante é que o pico de ação dela é bem menos intenso que o da NPH o que reduz consideravelmente os riscos de hipoglicemia.
Graças a essa mudança, as hipoglicemias realmente ficaram menos frequentes, mas o controle só melhorou após alguns meses de uso. Mas, com certeza, o controle da glicemia melhorou consideravelmente após usarmos a Levemir.
Isso foi importante.

sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

Insulina NPH

Como disse anteriormente, usávamos duas insulinas de ações diferentes: a NPH e a Lispro.
A NPH (Neutral Protamine de Hagedorn) é uma insulina de ação lenta. A ação dela inicia em torno de 3 a 4 horas após a aplicação, tem um pico de ação que ocorre em torno de 5 a 7 horas após a aplicação e podem continuar agindo por até 20 horas aproximadamente. Apresenta uma aparência "leitosa" devido aos cristais que retardam a ação dela.






Provavelmente é a insulina mais utilizada pelos diabéticos. Acima está um gráfico que ilustra mais ou menos o efeito da NPH.
A sua forma de atuação lembra vagamente a da insulina basal, ou seja, serve para manter a glicemia constante balanceando a glicose liberada pelo fígado.
A grande dificuldade que eu vejo para a correta utilização dela é a imprevisibilidade do pico de ação, que pode ocorrer num intervalo de tempo muito grande, ou seja, o pico de ação pode ocorrer dentro de um intervalo de aproximadamente 3 horas.
O que acontecia com o Fê: aplicávamos a insulina NPH mais ou menos às 6:00. Com isso imaginávamos que o pico deveria ocorrer em algum momento entre 11:00 e 13:00, preferencialmente próximo do meio dia.
Infelizmente não era possível prever o exato momento do pico, então, em algumas ocasiões havia uma terrível hipoglicemia, e em outras, hiperglicemias também terríveis.
Há pessoas que conseguem utilizar bem a NPH porque os picos ocorrem em horários mais constantes, entretanto, é necessário que as aplicações de insulina sejam feitos rigorosamente nos mesmos horários todos os dias, e todas as refeições devem ocorrer sempre nos mesmos horários, do contrário o risco de descontrole é muito grande.
Desse modo, para aqueles que conseguem controlar os horários dos picos com alguma precisão, é possível programar as aplicações de NPH de tal forma que os picos coincidam com os horários das principais refeições.
Para o Fê não foi possível. Mesmo mantendo as aplicações nos mesmos horários todos os dias, os picos ocorriam em horários totalmente diferentes. Isso foi uma coisa muito complicada. Lembro-me de ter usado duas marcas: Biolin e Novolin, e as duas apresentavam mais ou menos o mesmo comportamento.
Tudo isso fez com procurássemos opções para melhorar o tratamento. Assim, ficamos com duas opções: usar uma insulina de ação lenta, ou usar a bomba de infusão.

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

O início do tratamento

Voltamos para casa com algumas instruções, receitas prontas, para tentar controlar a diabetes do Fê.
Usávamos a NPH uma vez ao dia e a Humalog de acordo com a necessidade para baixar as glicemias muito altas.
O maior problema no início é aplicar a insulina.
Imaginem como é fazer uma injeção num bebê com 10 meses de idade.
Como não sei de nenhuma outra palavra para expressar o que eu sentia, então, desespero serve..., misturado a muito medo.
Imagine agora fazer isso enquanto ele dorme, tentando se mexer, e você precisando manter a agulha inserida por 5 segundos após a injeção da insulina para garantir que toda a insulina realmente entrou.
E quando você vê que depois de tirar a agulha saiu muito sangue pelo local da injeção? Você fica desesperado pensando quanto de insulina saiu? Quanto ficou?
Como eu disse antes, fazer os testes de ponta de dedo é tranquilo, só fica difícil quando o dedo que você precisa furar, espremer e segurar é um dedo de um bebezinho.
Daí pra voces sentirem que a maior dificuldade que eu tive não foram os procedimentos em si, mas sim, o fato de ter de fazer tudo isso no meu pequeno bebê.

Tipos de diabetes

À medida que convivemos com a diabetes melitus, vamos aprendendo mais sobre ela.
Citando os tipos mais comuns de diabetes:

- Gestacional
- Tipo 1
- Tipo 2

Na diabetes gestacional pode ocorrer justamente devido à gravidez nas mulheres que não eram diabéticas anteriormente. Óbviamente nem todas as gestantes desenvolvem diabetes durante a gestação, mas sempre que isso ocorre é importante fazer um controle rigoroso para evitar complicações durante a gestação. Ela pode passar após o parto, ou pode persistir exigindo um controle contínuo.

A diabetes melitus tipo 1 é caracterizada um processo autoimune que ataca células produtoras de insulina do pancrêas. O motivo pelo qual ocorre o ataque ainda não foi bem esclarecido.
Algumas linhas de pesquisa afirmam que o processo pode ser desencadeado por qualquer infecção mais intensa, fazendo com o sistema imunológico passa a atacar as células do pâncreas.
O certo é que após algum tempo o pâncreas fica impossibilitado de produzir e liberar insulina, e é por isso que as pessoas com diabetes tipo 1 precisam aplicar insulina, ou seja, para o diabético tipo 1 não é possível fazer controle sem as aplicações de insulina.

A diabetes melitus tipo 2 é caraterizada pelo mau aproveitamento, ou pela insuficiência de produção de insulina pelo organismo da pessoa. Este tipo de diabetes é de longe o mais comum. É também o tipo de diabetes mais difícil de ser diagnosticado. Por que? Porque algumas pessoas não chegam a ficar com glicemias muito altas (acima de 180 por exemplo) e muitas vezes apenas por algumas horas, o que gera sintomas muito leves. Mas isso é suficiente para causar danos e suas complicações, mas os sintomas só aparecem após muitos anos de descontrole. O problema é que muitas pessoas só percebem o problema quando começam a ter as complicações: retinopatias, neuropatias, obstruções vasculares causando problemas de circulação, problemas renais, e outros problemas.
Este tipo de diabetes é caracterizado pela deficiência na utilização e/ou absorção da insulina. Às vezes o pâncreas consegue produzir insulina, mas em quantidade insuficiente para o organismo daquela pessoa, por exemplo, em pessoas com sobrepeso pode ocorrer esse problema. Existe uma outra situação em que o pâncreas produz insulina, mas por algum problema genético o organismo não consegue utilizar esta insulina, e nestes casos é necessário utilizar medicamentos que facilitem a absorção da insulina. Existem ainda outras situações em que a insulina produzida possui alterações moleculares diminuindo a ação dela.

Resumidamente é isso. Mais pra frente falarei com mais detalhes sobre o tipo 1.

domingo, 21 de fevereiro de 2010

A volta para casa

Foi na quarta-feira de cinzas, 25/02/2004, que a enfermeira nos disse que só poderíamos deixar o hospital se NÓS conseguíssemos fazer os procedimentos no Fê. E aquele era o momento que eu temia, mas sinceramente eu nem fazia idéia do quanto seria difícil realmente.
Lembro como foi:
- peguei o frasco de insulina
- desinfetei a borracha da tampa
- peguei a seringa para insulina
- tirei a quantidade de insulina necessária, foram 2 unidades
- peguei mais um algodão com álcool para desinfetar a perna do Fê
- neste ponto eu estava tentando me controlar para não tremer
- segurei a perna dele e espetei a seringa
- empurrei o embolo
- tirei a seringa e fiquei desesperado quando vi que um pouco de sangue começou a sair
Mas a enfermeira me acalmou dizendo que isso era normal. Normal? Eu nunca tinha feito isso...Eu estava assustado, aterrorizado... não fazia idéia de que seria assim... fazer o teste na ponta de dedo era fácil comparado a isso. Era um passeio no parque num domingo de sol...
Mas isso seria parte de nossas vidas. Todos os dias, várias vezes por dia, sem descanso nem pausa.
E assim, estávamos prontos para ir para casa.
Saímos do hospital e passamos na Rimed. Compramos tudo que precisaríamos para fazer todo o trabalho: glicosímetro, tiras, alcool, algodão, seringas e as insulinas.

Lembro que nesse dia, antes de irmos para casa aplicamos 1 unidade de insulina ultra rápida porque a glicemia dele estava alta. Lembro também do nosso desespero ao ver que instantes depois ele estava hipoglicêmico. Não entendíamos porque 1 unidade havia feito aquilo se no hospital funcionava... nem sabíamos mesmo o que estávamos fazendo.

Os primeiros dias em que ficamos em casa o controle da glicemia não foi tão difícil por conta da "lua de mel". Isso quer dizer que o pâncreas dele ainda estava funcionando, ajudando no controle. Assim, a insulina lenta que aplicávamos ajudava o trabalho do pâncreas que precisava compensar apenas as alimentações (bolus).

Nesta fase estávamos usando dois tipos de insulina: a lenta Biolin (NPH) e a ultra rápida Humalog (Lispro). Mais pra frente falarei sobre insulinas.

A NPH era aplicada uma vez por dia. A Lispro era aplicada apenas para corrigir as glicemias altas.

As aplicações viraram rotina. Mas não pensem que foi fácil. Muitas vezes era complicado porque havia muito sangramento e não sabíamos quanto de insulina havia sido injetada. Com isso vinham os descontroles.

A internação

Entramos no hospital na madrugada do dia 21/02/2004 e saímos na tarde do dia 25/02/2004.

Fê ficou algumas horas com o soro no escalpo, até se recompor. Depois, o acesso para o soro foi colocado na mão, e ele ficou uma tala para imobilizar o local.
Logo nas primeiras horas, assim que o indocrinologista atendeu ao chamado, ele começou a fazer o teste com o glicosímetro e a receber insulina. Nós nem entendíamos direito o que estava sendo feito.
Dessa forma, os primeiros momentos no hospital foram tranquilos para nós. Ouvíamos as explicações do dr. Eurico, o endocrinologista responsável pelo tratamento, e tentávamos imaginar como seria nossa vida... nós realmente não fazíamos idéia...
Eu ficava olhando a enfermeira fazer os testes, furando os dedos dos pés, anotando os valores das glicemias, e às vezes, seguindo orientações do dr Eurico, ela vinha aplicar a insulina. Lembro que eu não conseguia imaginar como faria aquilo, aplicar insulina no Fê... tão pequeno...
Essa foi a nossa rotina, as enfermeiras medindo a glicemia, aplicando insulina, controlando tudo... e eu só estava pesquisando sobre a assunto, desesperadamente.
Percebíamos que as glicemias do Fê variavam muito. Às vezes altas, às vezes tão baixas que as enfermeiras colocavam soro com glicose e deixavam assim por horas.

E assim foi a nossa rotina.

O diagnóstico

Fê tinha 10 meses de idade quando foi diagnosticado diabético tipo 1. Foi em fevereiro de 2004, carnaval.
Na nossa ignorância achamos que fosse uma virose pois ele estava vomitando, com febre baixa, um pouco desidratado... e mesmo bebendo muita água não desconfiamos de diabetes.
Sempre achei que diabetes fosse um problema para pessoas mais velhas, com hábitos alimentares ruins, vida desregrada, coisas assim.... como eu disse, ignorância pura.
Minha esposa queria que o Fê fosse levado na noite de sexta-feira. Como sou excessivamente cauteloso disse a ela que seria melhor esperar até o amanhecer, afinal era sexta-feira, antes do carnaval, gente louca andando de um lado para outro, bêbados, etc. Mas, as coisas aconteceram de tal forma que não foi possível esperar até o amanhecer. À 1 da manhã no sábado Fê estava quase inconsciente... saímos correndo.
O diagnóstico foi feito no hospital Sabará, em São Paulo, na madrugada do sábado, com direito a uma cetoacidose grave, internação de quatro dias, e com o Fê tão fraco que ele nem reagiu enquanto a enfermeira procurava uma veia para colocar a agulha do soro nele.
Ele estava tão debilitado que tiveram de colocar o soro, inicialmente, na cabeça, na veia localizada no alto da testa. Nunca vou esquecer isso... ele nem chorou, estava quase desacordado. Não tinha forças para reagir, nem chorar.
Quando os resultados dos exames ficaram prontos, o médico responsável pelo plantão veio "correndo" para providenciar a troca do soro. Tirou o glicosado pelo soro com sódio apenas.
Quando ele nos contou que o Fernando tinha diabetes, a nossa reação foi relativamente tranquila, tão tranquila que o médico perguntou se realmente fazíamos idéia do que isso significava. E de novo por conta da nossa ignorância, achamos que seria simples, bastava que ele não comesse doces, fizesse a dieta, e tudo estaria bem... e lembro que ele olhou com piedade, dó mesmo, para nós e disse que pediria ao endócrino que nos procurasse para uma conversa mais detalhada.

Sempre seremos gratos à médica que desconfiou do quadro. Teve o cuidado de observar o hálito do Fê para perceber a cetoacidose, e pediu o hemograma completo, incluindo a glicose. Tenho certeza de que foi isso que salvou a vida dele.

Muito obrigado realmente.
Isso prova que um bom profissional sempre faz a diferença.

terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

Início

Hoje começo a postar idéias sobre a DM (diabetes mellitus) tipo 1 com base na nossa experiência.
Fê foi diagnosticado em fevereiro de 2004 com DM tipo 1.
É com base nisso que resolvi escrever algumas coisas que aprendi sobre diabetes mellitus, principalmente a tipo 1.
A DM1 é aquela em que o pâncreas não produz insulina. Assim, a pessoa passa a depender de injeções de insulina para o controle da glicose no organismo.
No nosso caso, iniciamos o tratamento com um método conhecido como "insulinização intensiva com múltiplas injeções" aliado à contagem de carboidratos.
O tratamento consiste em usar dois tipos de insulinas com ações diferentes: uma de ação lenta, e outra de ação ultra rápida. A idéia é usar uma insulina de ação lenta para simular a insulina basal no organismo, ou seja, existe uma pequena quantidade de insulina que o pâncreas libera constantemente para manter os níveis de glicose estáveis. Essa liberação ocorre ao longo das 24 horas do dia, mas a quantidade de insulina varia de acordo com o horário.
Há ainda outro tipo de insulina utilizada, que é conhecida como ultra rápida. Esta é utilizada para compensar os aumentos de glicose não controlados pela insulina basal. Esta insulina deve ser utilizada sempre que se ingere alimentos com carboidratos, de acordo com a quantidade e glicemia sanguínea no momento da refeição. Também deve ser utilizada para compensar eventuais aumentos na glicemia, mesmo fora do horário das refeições. Por isso o tratamento é denominado de "múltiplas injeções". Sempre que necessário é feita uma injeção com insulina.
A contagem de carboidratos consiste no cálculo da quantidade de carboidratos que são ingeridos em uma refeição. Como se faz isso? Simples:
Você precisa de uma tabela informando a quantidade de carboidratos de cada alimento para um determinada porção.
Se você quiser fazer a coisa direito, precisa de uma balança. Quanto mais precisa melhor. Não precisa ser aquelas de supermercado (caríssimas), mas uma doméstica digital já dá conta.
Você precisa pesar cada porção de alimento a ser ingerido, calcular a quantidade de CHO que cada porção de alimento possui, somar tudo, e calcular quanto de insulina será necessário para compensar aquela quantidade de CHO. Para isso você precisa saber a relação I/C (insulina/carboidrato) a ser utilizada para essa compensação. Não esqueça de medir a glicemia sanguínea antes da refeição porque ela entra na conta.
Mais pra frente vou detalhar este processo.

Assim, essa é a realidade de quem opta por este tipo de tratamento. Existem outros, mas optamos por este na esperança de manter um controle melhor sobre a DM.

Recentemente mudamos o tratamento para outro chamado de "infusão contínua de insulina", que é feito com o auxílio de uma bomba de infusão de insulina. Com isso, usamos um aparelho que contém um reservatório de insulina. Ele infunde insulina constantemente, 24x7, como um pâncreas. As quantidades de insulina podem ser programadas por horário, o que faz com que a insulina basal seja muito próxima à que seria liberada pelo pâncreas. O aparelho fica conectado o Fê através de um catéter plástico. É através dele que a bomba envia a insulina. Dessa forma, fica fácil aplicar qualquer insulina necessária para compensar a glicemia, ou a alimentação. Não há necessidade de aplicar injeções com seringas.
Além disso, a bomba que escolhemos, e este foi o diferencial maior, possui o CGMS (Continuos Glucose Monitoring System), que mede continuamente a glicose sanguínea(GS). Na verdade ele faz uma medição a cada 5 minutos, mas para isso ele precisa, além do catéter, de um sensor de glicose que fica inserido no subcutâneo. Com isso é possível acompanhar a variação da glicemia sanguínea quase em tempo real. Assim é possível corrigir quaisquer alterações, sejam para baixo, como para cima. Mas isso eu falarei mais tarde, com calma.

É disso que falarei daqui em diante.